Que distância haverá entre uma singular mente humana e o coronavírus? Ou quão ardida estará a terra que separa o entendimento sobre as duas coisas. De que coisa se fará o pensamento? Em que plano se projecta o que os olhos dizem do mundo? Que matéria compõe uma verdade? E este vírus, que dança faz empoleirado nos fios das fronteiras? Que coisa não está viva mas se dissemina, num espalhamento que é ora o tudo ou os vazios microscópios com que se inaugura a preocupação diária há meses?

O que são estas frases se ninguém as ler? O que são se forem lidas sem que mudem no hospedeiro a respiração? Que vida têm, ou não, estas ou outras, separadas e multiplicadas, contaminantes, num agigantado organismo mutante ou em pontos autómatos que seguem numa vagueação ilimitada?

Escondam-se os livros, coloquem-se as máscaras. Fujamos todos para dentro de nós e nunca para os outros. Dentro de nós permaneceremos até que passem todas as doenças, até que se lave toda a mácula que as pandemias deixem nas margens da vida que se consiga lá fazer.

10/07/2020